terça-feira, 16 de maio de 2017

Falei hoje de ti ao meu peito

 

Falei hoje de ti ao meu peito, meu bem.

Perguntei se ainda te recordava, se ainda te sentia a falta.

Mas nada me respondeu.

 

Lembrei-o das canções que cantavas, das flores que trazias, do cheiro da tua presença,

e até da tua ausência, quando partias, sem mim.

Dizias-me que quando a saudade me inundasse, inundava-te também,

Porque éramos um, com um só coração…

 

Falei ao meu peito dos teus livros cheios de histórias que líamos juntos,

e da calma que me oferecias quando me abraçavas,

dos teus dedos que entrelaçavam os meus, naquele gesto protetor que era tão teu...

Falei-lhe do cheiro do café pela manhã, que oferecíamos com um sorriso,

O desejo de boa sorte, quando havia medo de falhar,

O silêncio que dizia tudo, quando palavras não se adequavam ao nosso sentir…

 

Mas o meu peito remeteu-se ao silêncio.

E eu continuei - falei dos dias passados junto ao mar,

das tuas mãos que brincavam no meu cabelo – inesquecíveis, como tu,

da clareza dos teus olhos quando me observavam,

da franqueza das tuas palavras quando me pedias que voasse rumo aos meus sonhos.

E eu voava, porque tu eras o colo seguro que tinha para pousar, com um punhado de sonhos que guardavas para mim…

 

Falei de ti, como se te pudesse ver nem que fosse por um segundo, como se pudesse abraçar o teu abraço a qualquer momento,

numa prece muda de que não mais me deixasses assim, sem o teu peito, único,

para que o meu peito se encostasse.

 

E depois, as palavras não me chegaram, para falar de ti, para falar de nós…

 

Calei-me numa sisudez igual ao silêncio desta casa,

Na esperança de poder adormecer, para poder sonhar com o mesmo punhado de sonhos que guardavas para mim.

 

E, foi quando ouvi o meu peito sussurrar o teu nome,

E senti que doía-lhe a tua ausência, como me doem as palavras que ficaram numa história de amor

Que nem esta solidão, nem nada no mundo pode ou consegue apagar.

 

Falei de ti ao meu peito, e, chorámos…

Não por ti, nosso bem, mas pela falta que nos fazes…

 

Talvez porque seja sempre cedo para não tardar o momento de deixar

quem se ama, partir.

 

*

 

Ilustração musical: Carlos Silva

 

 

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